Estamos presenciando o fim da TV como conhecemos

O Substack se tornou promovedor de propaganda n4zista. Resolvi tirar minha newsletter definitivamente de lá. Continue lendo meus comentários humildes sobre internet e televisão agora por aqui, no Ghost.
No começo de tudo, havia a geração Z. Estes habitantes do planeta Terra se distinguiam por serem misteriosos, difíceis de agradar, com repulsa aos seus antecedentes e que se tornaram obsessão diária de boa parte dos acionistas e executivos da indústria do entretenimento.
Foi a geração Z que matou Stephen Colbert e, por consequência, os talk shows na TV? Foi a geração Z que tirou Faustão dos nossos lares?
A resposta é mais complexa que um simples sim ou não.
Apesar de já estar com índices negativos nas planilhas monetárias e na queda de audiência da CBS, o talk show de Colbert ainda repercutia nos meios digitais - principalmente nos famosos cortes de TikTok. E isso se deve em boa parte a eles, à geração Z. Porém, sem uma forma de monetização mais concreta que consiga encher os olhos dos executivos, só o meio digital não basta. Além disso, esse caso ainda contou com interferências políticas, o que só complicou a permanência do programa.
Três fatos definem este cenário: pouca gente assiste TV linear no horário tradicional; muitos acompanham apenas pelas plataformas digitais (minha esposa vê cortes de Vale Tudo no TikTok diariamente); e as big techs ainda não monetizam adequadamente os criadores de conteúdo.
Mais profundo que isso, porém, está uma mudança fundamental na forma como consumimos entretenimento. Os algoritmos das redes sociais substituíram definitivamente a curadoria editorial das emissoras. Se antes todos assistíamos Colbert às 23h30 na CBS - criando uma experiência coletiva nacional -, agora cada pessoa recebe um feed personalizado baseado em seus comportamentos digitais. Perdemos o ritual compartilhado do "você viu ontem?" para ganhar bolhas algorítmicas que nos entregam exatamente aquilo que já sabemos que queremos. O algoritmo se tornou nosso novo diretor de programação, e ele nunca erra - porque nunca nos desafia.
A questão que permanece é: como a monetização do digital poderá substituir o esquema de pagamento da TV linear, se é que isso ainda pode acontecer?
Os efeitos colaterais dessa mudança proporcionada pela nova geração de consumidores são evidentes: cada vez mais podcasts na internet ocupando o espaço dos talk shows (vide Conan), cada vez menos programas do porte do Domingão (multi-quadros) e uma resistência única dos eventos esportivos ao declínio.
Há também um fenômeno ainda mais revelador: a globalização completa do entretenimento. A geração Z consome K-pop coreano, anime japonês, creators britânicos e memes americanos com a mesma naturalidade - e muitas vezes mais entusiasmo - que o conteúdo nacional. Faustão competia não apenas com outros programas brasileiros, mas com todo o universo infinito da internet global. Como um apresentador regional pode competir com a produção cultural de sete bilhões de pessoas? O apego ao conteúdo local, que sustentou décadas da TV brasileira, simplesmente evaporou numa geração criada no YouTube sem fronteiras.
Os famosos talk shows da época de Letterman e Carson agora terão que se contentar com likes e views como sua métrica de sucesso. A forma terá que se adaptar, mas a essência permanece: a comédia continua, apenas migrou de plataforma. E talvez, no final das contas, essa seja a verdadeira revolução que a geração Z trouxe - não a destruição do entretenimento, mas sua democratização global e personalizada.
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— gruh (@GrahamSig) August 5, 2025
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— F♯A♯∞, fka ☕️ (@coopercooperco) August 5, 2025